sábado, agosto 15, 2009

RETOMADA COM JESUS

Certamente, muitos podem falar aos quatro cantos que acreditam, de fato, na recuperação de pessoas envolvidas no submundo do crime. No entanto, segue uma pergunta inquietante: quantos de nós abriríamos nossas casas para um estranho em busca de reabilitação? Pense. A
resposta é difícil, não é? Bem, essa é uma das particularidades no testemunho do taxista Paulo dos Santos, 60.

Nascido na interiorana cidade cearense Córrego do Moreira, Santos e seus irmãos viviam, ou melhor, sobreviviam em meio à pobreza. Ele ainda era pequeno quando sua mãe foi embora e desfez sua família. O tempo passava. Seu primeiro destino foi um orfanato, mais precisamente um colégio de freiras, aos 10 anos de idade. Em poucos meses no local, uma senhora rica o adotou. Essa era a primeira chance dele ter um verdadeiro lar e ser alguém.

Santos era tratado e querido como um filho, mas já cometia alguns delitos contra a mulher. Apavorado pela iminente descoberta por parte de sua mãe adotiva, ele foge e volta ao
orfanato. Ao receber o garoto, a freira o incentivou, em vão, a ser padre. Mais tarde, Santos volta a ser adotado. Novamente cometeu pequenos crimes, foi descoberto e voltou aos braços da freira.

Com dor no coração, a religiosa notou que o caso do menino não era tão simples. Pensando nisso, ela o encaminhou a um colégio agrícola, o "Santo Antônio do Buraco". Ali, meninos de bons e maus costumes conviviam entre si. Em uma tarde, Santos e mais dois amigos roubaram doces da mala de um dos colegas. O delito foi descoberto e, diante do medo de punições por parte do diretor da escola, os três fugiram. Na estrada, caronas e mais caronas, assim, o trio chega a Fortaleza.

Nas ruas da capital cearense, o menino vive com outras crianças de rua; passa a dormir nas ruas; e começa uma longa carreira de uma vida miserável. Com latas velhas nas mãos, os garotos batiam de porta em porta pedindo qualquer sobra de comida. Poucas vezes eram atendidos. Desta forma, "seguíamos nossas vidas, brincando de não ter futuro e roubando para enganar a fome", relembra Santos.

Feito um cigano, de cidade em cidade, o jovem segue conhecendo o lado negro da sociedade. Sua vida era um eterno fugir. "Sempre que ficava conhecido pela Polícia mudava de ares", afirma. Passou por Recife, Salvador... Ia para onde o mundo do crime o empurrava.

O tempo passava. Já era quase um homem. Detido algumas vezes ao "bater carteiras", o rapaz não se importava mais com seu destino. Ao desembarcar em Belo Horizonte, os roubos passam a ser à luz do dia. A praça da capital mineira se apequena, e ele precisa de um novo lugar para agir. De trem, migra rumo a São Paulo. Durante a viagem, Santos anda à procura de uma vítima e a encontra no bar.

Ele aproxima-se de um senhor, com boa aparência, o Israel, senta-se e planeja o furto. Na conversa, descobre que seu novo colega trabalha no Correio Central. Santos, ao ser questionado sobre sua profissão, mente, dizendo ser um vendedor ambulante.

Gentilmente, Israel o convida para almoçar. Nasce ali uma forte amizade. O roubo é esquecido. A viagem segue e os dois chegam à "terra da garoa". Santos é convidado por Israel a hospedar-se
no mesmo hotel. Há tempos, o cearense não era tratado com tamanho respeito e dignidade. Israel vai além e, com suas economias, oferece algumas mercadorias para o jovem trabalhar como ambulante em São Paulo.

Para seu espanto, no primeiro dia de "batente", Santos tem sua mercadoria apreendida por fiscais da Prefeitura. Ele tenta, em vão, argumentar. O frágil sonho de uma vida nova cai
por terra. Depois desta experiência, o ex-ambulante conclui que não adiantaria tentar mudar e volta à criminalidade na região central, próximo ao Teatro Municipal. Como em outros lugares,
o submundo do crime é o mesmo filme: miséria, ignorância, humilhação e descrença.

Em busca de novas vítimas durante uma noite, no centro de uma roda de crentes na praça da Sé, ele escuta o pregador dizer: "Se você é ladrão, maconheiro ou criminoso, Cristo pode resolver o seu problema". "Pedi a Cristo que transformasse a minha vida", confidencia. No dia seguinte, em um novo delito, ele foi preso e encaminhado à Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor). Chegando lá, soube que um menor, também interno, ganharia a liberdade. Santos pediu a ele que levasse um recado para Israel no Correio Central.

Avisado, o senhor foi falar com o Juiz de Menores. Israel afirmou à Justiça que queria levar o jovem para sua própria casa, pois tinha certeza de que ele era um bom moço. Suas atitudes eram momentâneas e condiziam com o mundo órfão em que vivia. Dois meses depois, Santos consegue liberação judicial e vai para a casa nova. Tratando-o como um verdadeiro filho, Dona Flor, esposa de Israel, leva o jovem à Igreja Adventista do Sétimo Dia. Lá, ele conhece verdadeiramente Jesus e é apresentado a um rapaz, que lhe arruma emprego em sua borracharia.

Com o amor de Jesus e daquela família, o destino de Santos começou a ser transformado. Com muito esforço e a ajuda de Israel, compra o primeiro carro, um DKV preto, e ingressa na profissão de taxista. Tempos depois, já estabilizado, o taxista sai de casa; casa-se; e passa a constituir sua própria família.

Infelizmente, Israel não está mais entre nós, enquanto Santos é casado e tem três filhos. Depois de mais de uma década no mundo do crime, hoje, o taxista é um homem transformado pelo poder de Deus. Em muitos casos, as pessoas que se recuperam não gostam muito de lembrar do passado, mas Santos faz questão de servir como exemplo.

"Em breve lançarei um livro e alguns panfletos sobre a Paz", sentencia.

Este testemunho foi apresentado na televisão, em duas oportunidades – no programa "Em Nome do Amor", do SBT; e no "Programa do Jô", da Rede Globo de Televisão.

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