quinta-feira, agosto 17, 2006

Obrigado por Fumar?

Nada mais chato do que o “politicamente correto”. Brincar com essa premissa pode ser bastante rentável quando se pretende fazer um filme que desafie com bom humor a sociedade norte-americana, como é o caso de Obrigado por Fumar. Questionando a liberdade e a manipulação da indústria do entretenimento por grandes corporações, o longa-metragem faz piadas com inteligência e é capaz de rir de si mesmo de uma forma desprendida e bastante divertida.

Nick Naylor (Aaron Eckhart) é o centro da ação e narrador do filme, baseado em livro homônimo e best seller nos EUA escrito por Christopher Buckley. Nick ganha a vida sendo lobista. A profissão é tão moderna que eu nem sabia que já existe no dicionário, mas existe. Para quem não sabe, lobista é a pessoa que faz lobby para alguma empresa. No caso, nosso protagonista defende publicamente o cigarro. Sim, ele trabalha para uma associação que investiga os efeitos do tabaco na saúde dos fumantes. O detalhe é que seu maior argumento é que não há provas concretas em relação aos males do hábito de se fumar. Nick é muito bem pago para falar e pode apostar que ele consegue argumentar muito bem.

No entanto, o lobista tem seus próprios fantasmas. Apesar de defender publicamente sua descrença quanto aos males do cigarro para a saúde de seus usuários, ele sabe que isso não é verdade. Divorciado, preocupa-se com a educação moral do filho, Joey (Cameron Bright, numa rara ocasião em que interpreta uma criança normal, sem características mutantes, maldosas ou malucas). Enquanto tenta educar o garoto, Nick tem de lidar com o fato de que, por ser a personificação dos interesses das indústrias tabagistas, é odiado pela maioria das pessoas. No seu caminho, passam uma série de figuras engraçadas, como o agente de Hollywood Jeff Megall (Rob Lowe) e seu assistente hiperativo (Adam Brody, o Seth do seriado The O.C.), a jornalista atiradinha Heather Holloway (Katie Holmes, também conhecida como “sra. Tom Cruise”), seu chefe boca suja BR (J.K. Simmons, de Homem-Aranha) e o senador Ortolan K. Finistirre (William H. Macy). Nick ainda tem outros dois amigos lobistas, Polly (Maria Bello, de Marcas da Violência) e Bobby (David Koechner), com quem forma o que ele gosta de chamar de “esquadrão da morte”, já que Polly defende as indústrias de bebidas alcoólicas e Bobby, as fabricantes de armas.

Jason Reitman, que estréia na direção de longas-metragens após vasta experiências em curtas, mostra uma direção dinâmica, aliada a uma montagem inteligente e um roteiro contestador de forma bem humorada. Obrigado por Fumar é cínico o suficiente para não se levar a sério, divertindo o espectador, fumante ou não. No fim das contas, tudo se trata da liberdade de escolha que todo cidadão tem. Afinal, os EUA não gostam de serem chamados de “terra da liberdade”? Sua visão cínica e despegada é essencial para que o filme divirta sem estar comprometido a qualquer causa. Não há espaço para a panfletagem ou o “politicamente correto” e esse é o maior charme da produção. Guardadas as devidas proporções, a figura de Nick dialoga com a do protagonista de Senhor das Armas (2005): simplificando, ambos lucram com a desgraça dos outros e estão relativamente tranqüilos quanto a isso. A escolha de Aaron Eckhart como protagonista - muito bem apoiado pelos atores coadjuvantes - não poderia ter sido mais acertada, pois ele tem o charme e o carisma para conquistar não apenas seus críticos no filme, mas também entre a platéia.
(Por Angélica Bito, do site Cineclick)

Infelizmente, a realidade que vivemos é bem diferente das que são transmitidas nas telas de cinema. O Brasil possui aproximadamente 31 milhões de fumantes. Em conseqüencia disto, oito brasileiros morrem por hora em conseqüencia do fumo. A indústria nacional do tabaco fatura US$ 8,5 bilhões – onde o governo abocanha uma fatia em impostos na ordem de 3,5 bilhões. No Brasil queima-se 182 bilhões de cigarros. Está mais do que na hora de dar um basta.

Diga não ao cigarro!

Júnior PEBA Paiva

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