quinta-feira, setembro 21, 2006

Até que ponto o Papa é infálível?

Os analistas descrevem as recentes declarações do papa Bento XVI como próximas a algo bastante inusitado: uma desculpa papal. Mas, como, se preguntan, pode um homem que os católicos acreditam ser "infalível" cometer um erro?

De acordo com a Igreja Católica, o pontífice é infalível, mas só em certos casos. O furor atual pelos comentários que o Papa fez sobre o Islã não se encaixam nesta categoria. A infalibilidade papal só entra em jogo com assuntos como a fé que concerne toda a Igreja. Não se aplica quando o Papa está expressando uma opinião pessoal ou, neste caso, citando um texto histórico.

A Infalibilidade Papal tem sido duramente debatida na Igreja durante séculos, depois que se estabeleceu no século XVI que o pontífice era quem preservava a verdad apostólica, (palavra derivada dos apóstolos). Mas de acordo com o historiador católico Peter Stanford, a palavra infaível não se utilizava porque se acreditava que só Deus era infalível. Era sabido que vários papas ao longo das épocas havíam trazido desgraça ao cargo devido aos seus comportamentos e opiniões, assegurou Stanford.

Diversos foram os movimentos para que houvesse uma aceitação formal de que o Papa era infalível. Em 1870, o Primeiro Concílio do Vaticano proclamou que o Papa era infalível, ainda que fossem postas certas condições ao conceito.

O acordo alcançado pelo concílio estabeleceu que "quando o Papa fala ex cátedra" - ou seja, como máximo hierarca católico-, "conta com a infalibilidade" quando "define (...) uma doutrina que concerne à fé ou à moral que deve preservar toda a Igreja". Uma vez que o Papa tenha falado, suas definições "são irreformuláveis em si mesmas", concordou o Primeiro Concílio do Vaticano.

Os ensinos normais do Papa, entretanto, não são consideradas infalíveis.


O que é infalível?

Ao que parece, João Paulo II quiz usar sua infalibilidade ao proibir a ordenação de mulheres. As proclamações infalíveis, inclusive, não são muito comuns. De acordo com o historiador papal Michael Walsh, só houve uma ocasião - desde que se fez a proclamação no concílio - em que um pontífice fez uma declaração infalível.

Em 1950, o Papa Pio XII proclamou a ascenção de Maria ao céu como um dogma de fé. Segundo Walsh, se acredita que o Papa João Paulo II queria fazer uma declaración infalível em 1994 quando proibiu a possibilidade das mulheres serem ordenadas ao sacerdócio, mas foi lhe aconselhado de qua não a fizesse.

Ainda que tenha decretado, os católicos não deveriam discutir mais este assunto, o tema poderia teóricamente, ser debatido en el futuro. Da mesma maneira, disse Walsh, os ensinos papais relacionados com a anti-concepção não são consideradas por muitos teólogos como parte da categoria de infalibilidade.

A famosa encíclica "Humanae Vitae" de Papa Paulo VI, que condenó os métodos anticonceptivos modernos em 1968, não foi emitida como uma declaração infalível. "Não se establecem declarações infalíveis através de uma encíclica papal", disse Walsh. Para fazer uma decisão infalível "deve se fazer uma declaração dogmática 'ex cátedra' desde Pedro".

Então para que serve?

Porque o primeiro concílio vaticano tomou a decisão de estabelecer a infalibilidade papal? Se acredita que o motiva foi um argumento político, desenhado para reforçar o status do Papa. No momento que o concílio tomou a decisão, em 1868, a maioria dos estados papais ja haviam desaparecido.

E se o Papa raramente utiliza uma declaração infalível, então para que serve? De acordo com o historiador Walsh, a resposta se encontra na forma que a igreja está estruturada.

"A igreja católica é, na realidade, uma federação de igrejas", acrescentou Walsh. "Cada arcebispo é a autoridade de sua própria diocese, mas todos os bispos estão unidos sob o Papa, que é o bispo de Roma". "Se supõe que los bispos estão unidos pela fé, mas quando existe uma divisão sobre assuntos teológicos, se argumenta que a única pessoa que nunca se afasta da fé é o Papa. Ele, de alguma maneira, mantêm a fé verdadeira e o Espírito Santo lhe advertirá se 'vai cometer um erro ou não".

A questão é: fará o Papa Bento XVI alguma declaração infalivel? Não é provável, assegurou Walsh, que acredita que o atual Papa está contrário à natureza de tais definições.
(BBC Mundo.com, traduzido por Júnior PEBA Paiva)

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